22/11/2023 às 18h46min - Atualizada em 22/11/2023 às 18h46min

BLOCOS ON CHAIN #14 - NFT.RIO RECAP: um inverno rigoroso, mas com sinais de primavera

Guta Nascimento

Guta Nascimento

Guta Nascimento é jornalista web3.

Trabalho do artista internacional Vince Fraser esteve presente no NFT.Rio

Salve, gente!

Como vocês estão?

 

Contagem regressiva já para 2024?
 

Animados?
 

O recente rali  de alta das criptos trouxe um gás para a sua área na web3?
 

Espero que sim, porque 2023 não foi um ano fácil. Apesar do bitcoin ter performado bem, deixando 2022 para trás, o investing money que sustenta projetos em blockchain - assim como o dinheiro institucional de muitos outros setores da tecnologia - migrou em massa para a inteligência artificial após a chegada avassaladora do ChatGPT. E aí o inverno foi rigoroso.

 

Os eventos da Web3BR, de modo geral, foram menores do que em 2022, com menos patrocinadores, menos expositores e menos público. Mas, mesmo reduzidos, institucionalmente foram importantíssimos para o fortalecimento do ecossistema, que em 2024 tende a ver crescimento paralelo à entrada cada vez maior de forças institucionais. 
 

A Blockchainrio, por exemplo, que teve uma versão menor este ano no Rio, marcou um golaço ao ter sua primeira edição em São Paulo, na USP, em parceria com entidades acadêmicas. Uma chancela e tanto. 

 

Dois mil e vinte e três viu também a chegada do Rio Web Summit e uma explosão de público na Rio Innovation Week. Dois eventos de tecnologia geral com participação de projetos em web3. O sucesso deles não tem mistério. Ambos foram frutos de um gigante investimento estatal com apoio dos governos municipal e estadual do RJ. Na RIW, destaque para o pavilhão da agricultura com vários cases interessantes e as oficinas ministradas pelos crias do 2050, laboratório de inovação na favela carioca Santo Amaro.

 

Na semana passada tivemos o NFT.Rio 2023. Também impactado por menos recursos, foi um evento de versão bem menor que a de 2022, quando inundou o Parque Lage de público. Este ano, abrigado pelo Festival Multiplicidade (que há 18 anos reúne arte e tecnologia), ele aconteceu no Futuros - Arte & Tecnologia, espaço que abriga várias importantes mostras de artes digitais no Rio. 

 

Entre as obras internacionais curadas, destaque para o trabalho do genial Vince Fraser, que acho que posso dizer é um dos meus artistas favoritos no mundo. Sou alucinada pelas suas  imagens em fusões sempre lindas, sempre vibrantes, e suas ondas de energia em movimento (as obras pulsantes de Fraser serão projetadas na noite de 1o de dezembro nas paredes da Tate Britain, em Londres, num evento pra lá de especial)

 

Entre os projetos que se apresentaram no NFT.Rio destaco o sensacional Favela Games Tracker. Foi uma excelente oportunidade para conversar com o fundador, Tino Gomes, e várias pessoas da equipe. Em breve contarei mais sobre eles aqui na coluna. Para quem não conhece, o Favela Games Tracker é um projeto que começou com jovens da Favela do Jacaré, em Cabo Frio (RJ), em 2019, e que lança advergames, games que trabalham com a produção artística remunerada de crianças neuro divergentes em favelas do país. No NFT.Rio foi apresentado o game Unbullying e tivemos uma prévia do Pequena África, que será lançado na primeira semana de dezembro, na UFRJ, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde o projeto tem residência. 

 

Outra excelente apresentação foi a da Cidade das Artes Adastra, projeto dos artistas CH Monstro e Lafontinne. Uma galeria de arte digital no Spatial (para conhecer entre por aqui). Segundo Monstro, o cerne do projeto é criar para os artistas uma nova maneira de expor.  A meta atual é aumentar a vizinhança digital e para isso estão correndo atrás de mais recursos e comunidades artísticas. A intenção é fortalecer a conexão com artistas digitais da web2, muitos dos quais nunca haviam mintado um NFT. Há também o desejo de uma exposição de Natal e um catálogo das NFTs expostas. Adastra está se tornando uma oportunidade bacana para artistas que ainda não são familiarizados com a tecnologia dos smart contracts terem um projeto no Metaverso. 

 

Nos talks, tive a alegria de participar de um debate sobre Cultura Digital com Domi Valansi e Ivana Bentes. Ivana é, entre outras atribuições, referência em curadoria de arte digital no Brasil. Pesquisadora, tem relevantes reflexões sobre os primórdios da cultura digital brasileira e lembro muito dos painéis do qual ela participava nas Campus Party do final dos anos 2000.

 

Foi também um prazer ouvir as reflexões de Anapuaka Tupinambá sobre os valores digitais e analógicos. Na troca com a plateia, ele fez importantes apontamentos sobre a ação de se construir uma tradição e gerar ancestralidade a partir de hoje. 

 

Sempre interessante também é ouvir o Casta Crypto. Em uma de suas apresentações, ele nos apresentou a Valocracia, um interessante conceito de um sistema para DAOs e coletivos, no qual poder econômico não equivale a poder de governança. Casta, com sua sempre excelente didática, conseguiu traduzir muitos dos sentimentos que nos permeiam pelo fato de estarmos no meio de uma era de experimentação da Web2 para Web3. “As comunidades Web3 estão surgindo”, observou ele, “mas estão com dificuldades”. A ideia da Valocracia não é substituir as DAOs, mas oferecer uma alternativa para incentivar as pessoas a agregarem valor em seus coletivos. “O esforço individual se torna um ativo de propriedade do indivíduo”, explicou ele. Pra mim, um dos pontos mais interessantes do conceito é a crítica ao fato que governança não pode ser vendida via ICO. “Ela deve sim”, defende ele, “é ser mintada pelo esforço coletivo”

 

Outras muito boas reflexões foram geradas pelo painel que reuniu os artistas Fesq e Costa Jpeg, mediados por MPC, o criador do NFT.Rio. Costa Jpeg é um artista do RJ que brilhou num dos painéis da Blockchainrio, em SP, sobre o mercado de arte de NFTs. É sempre muito bom ouvi-lo. Em painéis com artistas é muito comum vir da plateia a pergunta sobre como ter uma trajetória bem-sucedida financeiramente no mercado de NFTs. Tanto Fesq, quanto Costa, cada um à sua maneira, têm uma opinião assertiva unida num ponto que é: seguir com consistência independentemente dos altos e baixos dos ciclos de mercado. 
 

Costa vem construindo uma trajetória de reconhecimento internacional. Foi curado para as NFT.NYC de 2022, 2023 e participará da de 2024. Também foi curado pela NFT.Liverpool e falou com propriedade sobre como a arte digital em NFT propicia mais facilidade para expor globalmente do que a arte tradicional. 

 

Fesq, cujo background como programador o ajudou a desvendar os smart contracts - e tendo a arte 3-D como campo originário - hoje é um artista exclusivamente digital. Começou a produzir em NFTs em 2020, quando teve que procurar sobre coisas como Metamask no YouTube - e não achou nada - e pedir ajuda a estranhos no Twitter. Atualmente transita entre o mercado autoral e o comercial. Faz trabalhos em 3-D para grandes marcas como Nissan, projeções para shows e esse ano fez um projeto interessante para a Coca-Cola, exibido na Sphere de Las Vegas. 

 

Ambos reconhecem como a tecnologia NFT une uma comunidade internacional, tirando o artista de uma única comunidade local. Costa Jpeg tem feito isso com maestria tendo parte de sua trajetória calcada na estética de memes, reunida em seu portfólio como Modern Memeism. Artista que sempre desenhou, começou sua produção na música. A pandemia da Covid, e a crise instalada por ela no mercado musical, o levou para a criptoarte. Seu primeiro NFT a ser vendido compreendia uma arte com sua música.

Comprou um iPad e não parou mais. Algumas de suas obras reúnem seus dois talentos, como a divertida
Pepe is Dead que abarca um GIF do mais famoso sapo digital e uma música sua. Para Costa, memes são criados a partir de gírias, que são criadas a partir de costumes. Ao capturar o zeitgeist da web3, ele cria sucessos imediatos. Recentemente sua coleção We Are So Back foi um destes casos. Cem NFTs esgotaram em míseros dois segundos. Nem ele próprio conseguiu pegar um. Ao absorver uma narrativa no Twitter, produziu uma série de segunda à quinta. Na sexta, vendeu tudo. 

 

Artistas conhecem na pele as dinâmicas positivas e negativas de mercado. Por isso, foi muito bom ouvi-los falar com honestidade sobre a pressão dos colecionadores, especulação e a manada de oportunistas que surge a cada bull market. Resumindo, um aulão para os artistas, colecionadores e público presentes. 

 

Por fim, não poderia terminar essa coluna sem enviar condolências a toda família e amigos de Luciano Vassan, co-fundador do Brasil NFT, falecido na semana passada. Em setembro deste ano na Blockchainrio, no RJ, eu, Thais Santana (Futuro On)  e Alessandra Caldeira (Plataforma Impact), tivemos o prazer de dividir com ele um painel sobre Web3 e Impacto Social. Luciano era uma pessoa de grande energia com atento olhar social. Sua sensibilidade para as questões de desigualdade fará falta. 

 

Finalizo prometendo para breve uma coluna com um 2024 Countdown.
 

Que o próximo ano chegue com mais força para desenvolvimento.
 

Em 2023, parabéns aos projetos que sobreviveram a este ano gelado. Quem conseguiu buildar esse ano merece brindar muito no réveillon com uma bela bebida e um sorriso largo de quem deixou o pior para trás. Vocês foram resilientes. E resiliência é também apenas seguir em frente, seja na velocidade que for. 

 

Um beijo,

Guta 

 

Guta Nascimento é jornalista especializada em tecnologias emergentes e trabalha com onboarding por meio de palestras, lives, aulas, talks e painéis. Para saber mais, leia Web3 Para Todos.

 

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Filoversando #05, Blockaffee #39, Ela por Elas,  Metacast #49 e Cryptalk Caxt#11

Lives: NFT não é uma figurinha e Construindo no Upland

 

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