04/09/2023 às 11h37min - Atualizada em 04/09/2023 às 11h37min

BLOCOS ON CHAIN #11 - O VERÃO E O INVERNO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Guta Nascimento

Guta Nascimento

Guta Nascimento é jornalista web3.

Salve, gente!
 

Como vocês estão?
 

Por aqui estou cada vez mais mergulhada no cross fascinante de AI + IoT + Blockchain + RA + RV (e em GameFi, claro, minha paixão, que tá vindo com projetos muito legais e bem-estruturados - para enterrar de vez aquele vexame de 2021, cruzes, rs).

 

Setembro é mês de BlockchainRio, evento que foi gigante em onboarding na sua primeira edição carioca e tomara que seja maior ainda nesse seu segundo ano. Estarei lá em um painel (dia 12, às 15h35) num debate sobre os desafios de quem está construindo - ou quer começar a construir - projetos de impacto social nesta nova web. Uma troca de ideias mediada pela Carol Santos (que lidera o fantástico Educar+), com Inaiara Florêncio e Lilli Kessler. Se estiverem por lá, juntem-se a nós!

 

E para quem está em SP, nesta terça (05/09), tem o Meetup Drex, na B3, liderado pela B3 & Blockful. Painéis interessantes reunindo DeFi, fintech, auditoria de smart contracts, cripto e bancos. Um belo caldeirão borbulhante.

 

Na seara das IAs, trago hoje um bate-papo muito interessante que tive com Jean da Rolt, pesquisador em Inteligência Artificial e Nanoeletrônica. Eu simplesmente adoro ouvir quem pesquisa. Sobretudo quem já está na jornada de IA há muito tempo, como o Jean, que é o pesquisador líder do TOTVS Labs, nos EUA. Pesquisadores em geral fazem recortes agudos e assertivos em pontos que muitas vezes passam despercebidos nos debates mais amplos e generalistas. Foi a conclusão que cheguei da nossa conversa. 
 

O que eu mais gostei de ouvir na conversa com o Jean foi quando ele ressaltou um ponto importante para quem questiona o ritmo dos próximos saltos no desenvolvimento das IAs. Como vejo muita controvérsia neste ponto, se estamos, afinal, perto ou longe de um platô, perguntei para ele quais seriam - na visão dele - os próximos grandes saltos na linha do tempo, como foi, por exemplo, o modelo dos Transformers na arquitetura de Deep Learning. Nas palavras dele:

 

“Acho que a gente tem ainda muito combustível pra queimar com tecnologias que antecedem 2020. Só com o que nós tínhamos - mesmo antes do Transformers - que a gente poderia aplicar nas empresas, o que a gente tem de dados para aplicar, só com isso a gente poderia passar anos sem necessidade de novas tecnologias. 
 

O que está vindo mais recente como os LLMs (Large Language Models - ou Modelos de Linguagem de Grande Escala), GPT, eu não vejo tão cedo uma parada. Até porque - ao meu ver - a gente começou a ter um fator multiplicativo com o ChatGPT. Não é mais o cientista que está desenvolvendo. Chegou nos engenheiros, nos desenvolvedores de softwares que estão desenvolvendo novas soluções em cima do ChatGPT. E o mais interessante não é a solução final, são soluções ainda intermediárias.”

 

A explosão do multimodal

“O GPT3 é unimodal. Só trabalha com texto. O GPT4 trabalha com textos e imagens, como o MidJourney. Mas já faz tempo que a gente tem pesquisa nessa área de multimodal e fazendo muito mais coisas. Texto-áudio, texto-vídeo. Só tende a explodir.”

 

Mais atenção para Self-Attention

“O Transformers é de 2017. Mas eu diria que ele não é nem a parte revolucionária do ChatGPT. Ele tem outros pontos, que é uma versão mais importante, um mecanismo chamado Atenção - Self-Attention, lá de 2015, que o ChatGPT usa para fazer a relação entre as palavras, entender o que combina. A correlação entre as palavras, ao meu ver, foi muito mais revolucionária do que o Transformers. É muito importante falar que na ciência não é assim, ‘o, chegou em 2015’. Pra mim, o Self-Attention foi um ponto muito mais marcante que o Transformers porque ele ajuda a gente a encontrar o relacionamento, a correlação entre as palavras.

Essa é uma das mágicas do ChatGPT.
  E como toda a ciência, ele não surgiu do nada. 

 

Em 2015 todo mundo faz referência ao Google, eles dão até o crédito pro Google, né, mas tem trabalhos muito anteriores falando  de Atenção.”

 

Os verões da IA

“O que eu acho interessante de comentar aqui sobre essa questão do Transformer e do Attention é que, ao meu ver, a ciência - como ela é feita hoje em dia na área de IA - é diferente da ciência que é feita em outras áreas. Eu acho que isso é o que mudou. Nos outros verões da inteligência artificial, a gente não tinha isso. É muita gente trabalhando. A gente não tem mais que esperar por uma publicação, através do que  a gente chama de paywall. Normalmente em outras áreas, você publica em uma revista e só quem paga tem acesso. Ou seja, isso limita muito.”

 

Esforço da comunidade > OpenAI 

“Outra questão também é a questão de todo paper ter o código publicado na internet, ter os dados publicados, então, todo mundo consegue pegar aqueles dados e dar uma continuidade, dar sua contribuição. Ao meu ver é isso. É mais um esforço de comunidade do que um esforço da OpenAI.”

 

AutoGPT ao infinito e além

“Um exemplo que talvez o pessoal já conheça é o AutoGPT, tem o Baby ADI, nome interessante, né, que eles já começam a fazer chamadas ao GPT para auxiliar em toda a questão textual. Mas eles podem fazer chamada a internet, chamada a outras funcionalidades que a gente tem disponível. Para quem não conhece, o AutoGPT é um agente. Por exemplo, se eu quero fazer a revisão de um livro, ‘aqui está o link, me ajuda a fazer essa revisão?’. Então a gente acaba fazendo várias chamadas por trás ao GPT, ele vai lá na internet, procura o livro, quebra ele em partezinhas, acaba simplificando muito, facilitando a experiência do usuário. Soluções como o AutoGPT já estão acontecendo e a gente vai ver isso espalhado por tudo. Inclusive integrando o código, fazendo outras chamadas, que não é só acesso a internet, ao GPT, teremos acesso a APIs com dados proprietários. Vai ter muita revolução ainda só com esse tipo de tecnologia.” 

 

Varejo

“Do lado do varejista a gente já tem soluções, inclusive desenvolvidas dentro da TOTVs, pra precificação, pra encontrar o melhor preço, corrigir margem, enfim, várias coisas. Com os dados que a gente já tem, tem muito mais coisa pra fazer. Se a ciência parasse hoje, tipo ‘acabou, ninguém faz mais ciência’, a gente ainda teria uns dez anos para trabalhar em soluções. Agora do ponto de vista do cliente, do consumidor, tem muita coisa que vai começar a impactar. Vi uma vez um trabalho bem interessante onde eles analisavam para onde que o cliente estava olhando na hora de fazer uma compra no supermercado. E aí conseguiam, em cima dessa análise, dizer qual a melhor posição para fazer um ajuste fino na posição do produto. Fora toda a questão do mercado começar a te observar, a colocar câmeras ali, né? Para conseguir saber melhor ‘se essa pessoa passa por tal prateleira, então, vou oferecer um desconto para ela’, em vez de fazer aqueles descontos que eles dão no final para você vir na próxima vez. Agora, na hora, eles poderão dizer ‘não, hoje você passou nessa prateleira, mas não passou naquela em que você costumava passar, quem sabe dá uma passadinha lá, né, tem, assim, ó etc’. A gente pode passar dias falando só sobre impactos que a gente vai ter no varejo em geral, no mercado como um todo.’

 

Com quem será que a IA vai casar…primeiro?

“Acho que uma coisa que vai casar muito rápido, até pela força do Facebook e da Apple com os lançamentos recentes, é a Realidade Virtual. Eles estão empurrando isso e não adianta. Eu acho até que a Realidade Mista vai ser mais interessante. Não só por você conseguir não se desconectar completamente da realidade, você acaba mantendo uma relação e vendo as pessoas, mas também por começar a completar, quem sabe a gente consiga enriquecer a realidade em alguns aspectos. Eu acho que, por isso, a IA está muito mais conectada talvez com a Realidade Aumentada. Vejo com o Blockchain também, com a questão da segurança de dados. 

 

E o inverno das IAs?

“Sabe que eu acho que não é uma questão como eles comentam ‘o inverno das IAs’. Eu acho que tem ajustes finos, pelo que eu vejo em publicações, são ajustes finos que a gente tem que fazer para melhorar algumas  conexões da IA, por exemplo, com a realidade virtual. Principalmente na realidade virtual, que depende muito da questão visual, de imagem. Tem muita coisa interessante que a gente faz na IA com imagem. Mas essa integração acho que falta ainda um pouquinho pra ela ficar um pouquinho mais digamos ‘similar’, né, para que a gente não note tanto, para que ela fique um pouquinho mais natural.”

 

Meta, janelas e zumbis a caminho

“Até da Meta, né, como eu comentei, tem umas demos muito interessantes que chamaram a atenção. Uma demo que eu vi é aquela da realidade virtual  do Facebook, onde tinha uma janela numa sala que não tinha janelas. Enfim, é triste, né, a pessoa não ter uma janela, mas agora você coloca a janela.
 

Outra que eu vi também é a dos zumbis. Imagina isso para jogos. É uma questão de tempo para isso aí ser o padrão, parecer que está do seu lado. Ao meu ver, do ponto de vista tecnológico, a gente não vai esperar muito pra ter isso. São pequenos ajustes que faltam para que a tecnologia fique um pouquinho mais natural.”

 

IA, Metaverso e Games

“Acho que irá muito nessa questão de geração de ambientes. A gente sabe que hoje em dia muitos ambientes dos jogos são gerados com computação gráfica, inclusive com inteligência artificial. Mas já pensou conseguir fazer isso de maneira dinâmica, que legal que seria? Não ser um jogo de imersão bem definidinha, onde cada vez que eu entro no jogo, vai ter aquela sala que eu conheço. Não. Cada vez que eu entrar, ele vai gerar uma coisa diferente. Imagina, você nunca vai cansar de entrar naquele jogo, né? Então, acho que essa é a primeira interação entre Inteligência Artificial e Realidade Aumentada que vai mudar a forma como as pessoas acessam até outros conteúdos. Não é só jogo. Vai mudar completamente tudo.”

 

Chatbots, Avatares e Humatares

“Entra numa área que é o relacionamento humano. Qual é a preferência de você estar falando com uma pessoa ou com uma IA? Minha opinião pessoal é que aquelas ligações que a gente recebe, chega num ponto que pode vir a melhor atendente com o que você quiser, você não vai atender porque você já sabe que é. Eu particularmente não gosto muito, mas é minha opinião pessoal. Mas, na linha de avatares reproduzindo um comportamento humano, ah, isso vai melhorar muito, tá melhorando, né? Isso tem uma tendência de ter uma ligação muito mais empática com as pessoas. Do ponto de vista da tecnologia, a gente tá cada vez mais melhorando. Eu lembro lá de 2015, quando a gente gerava um quadradinho com o rosto de uma pessoa e a gente achava que aquilo ali estava muito legal. Aí quando a gente viu pra onde é que isso tava andando, que a gente tava gerando personagem de jogos completamente a partir de IA, com o corpo inteiro, feições, expressões faciais que correspondem ao ser humano. Eu acho que vai ter um um grande impacto nessa área de videogame, na produção de vídeos feitos por computação gráfica.” 

 

IAs - medo ou fascínio?

“Eu acho que o medo não é um medo real, sabe? É quase que uma ficção. Porque as pessoas, de fato, não estão preocupadas realmente se a inteligência vai ou não vai substituí-las. É uma discussão muito superficial hoje em dia. Eu sinceramente acho que não, que a gente não vai ter esse futuro. Pelo menos não tão cedo. Mas um ponto que me toca muito é essa questão dos impactos sociais. Porque a gente não precisa nem pensar na inteligência artificial. É só pensar hoje em dia no tipo de trabalho que a gente faz, é um trabalho mais tecnológico. Só que o trabalho tecnológico exige educação. Então a gente tá subindo a barra até com inteligência artificial. E a gente tá deixando as pessoas na mesma posição. Estamos distanciando as pessoas de possíveis vagas de trabalho no futuro. Isso ao meu ver é um risco maior. E a gente teria que  tomar um cuidado com isso. Formar para especializar. Eu acho que são dois lados, um é a gente formar, melhorar a educação como um todo, inclusive instruindo as pessoas para coisas que já existem hoje em dia. Por exemplo, a rede social utiliza a inteligência artificial. Não é uma coisa que o ChatGPT que trouxe. Isso já estava há muito tempo, né? E a gente tem que instruir, principalmente as crianças, que isso aí vicia. A gente tem que ter essa preocupação com os nossos jovens. E, por outro lado, a gente também tem, como empresas desenvolvedoras de tecnologia,   também começar a ter essa preocupação. Acho que a gente tem uma responsabilidade ética como desenvolvedores, quem já está desse lado aqui, quem já está empregado. Como eu falei, a gente subiu a barra da tecnologia, tem muita gente que já está aqui que tem que ajudar a formar o pessoal. Ajudar o pessoal a atravessar essa ponte.”

 

Guta Nascimento é jornalista especializada em tecnologias emergentes e trabalha com onboarding por meio de palestras, lives, aulas, talks e painéis. Para saber mais, leia Web3 Para Todos.

 

Podcasts: DCLBRASIL #16 (coordenadas -107, -94 no Decentraland)

Filoversando #05, Blockaffee #39, Ela por Elas,  Metacast #49 e Cryptalk Caxt#11

Lives: NFT não é uma figurinha e Construindo no Upland

 

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