14/04/2023 às 16h17min - Atualizada em 14/04/2023 às 16h17min

'Desdolarização' nos mercados emergentes acelera e Brasil encabeça processo na A. Latina

Brasil é o país da América Latina com maior margem para a desdolarização comercial


A tendência de "desdolarização" nos mercados emergentes está mostrando sinais de um aumento e convergência, informou o o jornal estatal da China Securities Times, nesta sexta-feira (14), citando Zhang Rui, membro da Associação Chinesa de Desenvolvimento de Mercados.

Zhang disse que a China e o Brasil concordaram em não usar mais o dólar americano como moeda intermediária, mas em realizar diretamente transações comerciais e financeiras em suas próprias moedas. Enquanto isso, o Ministério das Relações Exteriores da Índia emitiu um comunicado afirmando que a Índia e a Malásia concordaram em usar a rupia indiana para o acordo comercial. Além disso, a redução da dependência do dólar dos EUA nas transações financeiras e a mudança para a liquidação em moeda local tornaram-se o principal tópico de discussão na reunião formal dos ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais dos 10 países da ASEAN.

Zhang disse que o acordo com o Brasil segue os acordos da China com mais de 20 países, incluindo Rússia, Emirados Árabes Unidos e Iraque, para liquidar alguns bens em moedas locais. Ao mesmo tempo, muitos negócios entre a Rússia e Turquia, Turquia e Irã, Índia e Rússia, Indonésia e Malásia são realizados em moedas que não são o dólar.

Zhang acrescentou que, enquanto fazem o seu melhor para se livrar dos grilhões do dólar no comércio, os países de mercados emergentes também estão optando por diluir sua alocação e dependência do dólar e seus produtos financeiros em suas reservas cambiais. De acordo com os dados, as participações da China em títulos do governo dos EUA caíram para US $ 859,4 bilhões, o nível mais baixo em 14 anos. A Rússia, por sua vez, detém apenas US $ 67 milhões em títulos do governo dos EUA, uma queda de 2.600% em relação a uma década atrás, enquanto as participações da Arábia Saudita caíram de US $ 184,4 bilhões há uma década para US $ 111 bilhões, uma taxa líquida de liquidação de 40%. Além disso, países como a Índia e o Brasil estão simultaneamente reduzindo suas participações em títulos do governo dos EUA.

Zhang disse que o mecanismo de transação comercial autoconstruído tornou-se um arranjo institucional comum para os países de mercados emergentes. Por exemplo, a Rússia construiu seu próprio sistema de pagamento SPFS, que tem 469 instituições, incluindo 115 entidades estrangeiras em 14 países. Da mesma forma, a China também criou sua própria ferramenta de liquidação comercial CIPS, que atraiu 1.427 instituições, cobrindo 109 países e regiões ao redor do mundo. De forma mais geral, os países do BRICS estão se preparando para criar seu próprio sistema de pagamento unificado, o BRICSPay, que deverá ser discutido mais adiante na Cúpula do BRICS na África do Sul em agosto.

Zhang disse que, em comparação com as economias desenvolvidas, os países de mercados emergentes são mais ativos ao "de-dollar". A principal razão é que os países de mercados emergentes sofreram mais com o dólar, e é mais urgente se livrar dos grilhões do dólar.

Brasil é o país da América Latina com maior margem para a desdolarização comercial, diz especialista

O fortalecimento da moeda chinesa acontece principalmente em decorrência das sanções econômicas impostas pelo Ocidente à Rússia, movimento que não tem dado certo para os Estados Unidos, já que sua moeda, o dólar, vem sendo gradativamente deslocada, apontam especialistas.

Segundo o fundador e CEO da Sputnik Capital Management, o economista Aleksandr Losev, o yuan chinês está se tornando a principal moeda das empresas russas, já que o dólar norte-americano, o euro e as moedas dos países do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) se tornaram tóxicos para pessoas físicas e jurídicas russas.

 

“Isso se deve a sanções antirrussas, bloqueio de contas, fechamento de contas bancárias correspondentes, desconexão do sistema SWIFT e limitação de pagamentos”, disse Losev.


O economista mexicano e doutor da Universidade de Manchester, Moritz Cruz, em entrevista à Sputnik afirmou que o uso do yuan e do rublo nas transações comerciais realizadas pela Rússia compensa quebrar a dependência dessa e de outras economias com relação ao dólar.
 

“É o início de algo que já parece inevitável, que é o deslocamento do dólar como principal moeda de troca em nível global”, disse o especialista, que indicou que o Ocidente fez um cálculo ruim em relação a Moscou, já que a economia do país eurasiano não foi afetada nos níveis que Washington e seus aliados anteciparam.


Apesar de o yuan ter ganhado força como moeda de troca comercial, o fundador do BRICS+ Analytics, Yaroslav Lisovolik, indicou que a atratividade da moeda chinesa é maior do que os retornos que podem ser vistos na linha de investimentos e ativos em dólares e euros, e afirmou que, para que essas perspectivas do yuan como moeda de investimento se fortaleçam no mercado russo, é importante expandir a lista de instrumentos financeiros disponíveis para os investidores russos em yuan.

Segundo o economista mexicano, o processo de desdolarização, que já é uma realidade na Rússia e na China, pode atingir também a América Latina. No entanto, ele indicou que isso será muito mais gradual.

 

“Será [um processo] muito mais lento devido aos compromissos que a Argentina ainda tem, por exemplo, com a moeda americana devido à sua dívida com o Fundo Monetário Internacional [FMI] […] nessa transição para quebrar essa dependência, eles ainda têm muitas restrições devido à forma como vêm conformando seus padrões comerciais”, disse Moritz Cruz.


O governo brasileiro anunciou recentemente um acordo com seu homólogo chinês para realizar transações em yuan e real, as moedas da China e do Brasil, respectivamente, em um novo golpe para a hegemonia comercial dos EUA.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) foi a responsável por fazer o anúncio, especificando em nota divulgada no dia 29 de março que os dois países firmaram o estabelecimento do comércio bilateral em moedas locais.

Nesse sentido, o economista latino-americano avaliou que o Brasil é justamente o país da região que tem maior margem para a desdolarização.

 

“Acredito que o Brasil tem mais possibilidades e porque eles têm mais liberdade financeira até certo ponto, e porque o comércio deles é mais diversificado com o cone sul e com outros países, é menos com os Estados Unidos; isso permite ter essa liberdade”, enfatizou.


Da mesma forma, o grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) avança na criação de uma nova moeda para substituir o dólar americano, segundo o vice-presidente da Câmara dos Deputados da Rússia, Aleksandr Babakov.
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