05/08/2024 às 23h09min - Atualizada em 05/08/2024 às 23h09min

Especialistas avaliam a crise nos mercados: quais as próximas etapas para Bitcoin e Criptomoedas?

Análise aprofundada dos fatores que desencadearam a crise, as perspectivas para os próximos meses e as estratégias de investimento mais seguras em um cenário de alta volatilidade

A alta dos juros no Japão e risco de recessão nos EUA trouxeram temor nos mercados globais (Foto: Adobe Stock)
Na segunda-feira, 5 de agosto, os mercados financeiros globais enfrentaram um dos dias mais turbulentos do ano, com perdas acentuadas em índices de ações e no mercado de criptomoedas. As quedas foram exacerbadas por uma combinação de fatores econômicos e financeiros que deixaram investidores apreensivos e acionaram uma série de mecanismos de proteção nas bolsas de valores ao redor do mundo.

Nos Estados Unidos, os principais índices registraram perdas significativas. O Dow Jones Industrial Average caiu 2,60%, encerrando o dia a 38.703,27 pontos. O S&P 500 recuou 3%, fechando em 5.186,33 pontos, com uma perda de US$ 1,3 trilhão em seu valor de mercado. O Nasdaq Composite Index, por sua vez, desabou 3,43%, para 16.200,08 pontos. A tensão nos mercados refletiu um sentimento de incerteza crescente entre os investidores, impulsionada por preocupações com uma possível recessão nos EUA e o recente aumento na taxa de juros no Japão.

No Brasil, a B3 também sofreu impactos. O Ibovespa fechou em queda de 0,46%, a 125.269,54 pontos, enquanto o dólar subiu 0,56%, sendo cotado a R$ 5,74 — o maior valor desde outubro de 2020. O pânico nos mercados globais teve um reflexo direto no mercado financeiro brasileiro, acentuando a volatilidade.

A turbulência foi acentuada pelo cenário na Ásia, onde os circuit breakers foram acionados em diversas bolsas de valores devido a quedas abruptas. No Japão, o índice Nikkei despencou 12,4%, marcando o pior desempenho desde o crash de 1987. O sentimento de medo foi amplificado pela postura do Federal Reserve, que manteve a taxa de juros elevada entre 5,25% e 5,5% ao ano, e pelo fraco relatório de empregos nos EUA, que revelou a criação de apenas 114 mil vagas, muito abaixo das expectativas de 185 mil.

Criptomoedas 

O mercado de criptomoedas também foi severamente afetado. O Bitcoin (BTC) viu uma queda de 16% em seu valor, enquanto o Ether (ETH) zerou os ganhos acumulados ao longo do ano. O valor total de mercado dos criptoativos encolheu em mais de US$ 450 bilhões desde a última sexta-feira. Às 8h45 (horário de Brasília), o Bitcoin estava cotado a US$ 51.002. No final do dia, às 23h12, a principal criptomoeda do munda estava cotada a US$ 55.880. No ínício da manhã o Ether apresentava uma queda de 23%, sendo negociado a US$ 2.243, conforme informações do CoinGecko. No encerramento do dia no Brasil, a moeda estava a US$ 2.513.

O impacto nos criptoativos chamou a atenção da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) do Brasil, que enviou ofícios a empresas envolvidas com "tokenização" de ativos para obter esclarecimentos sobre a natureza dessas operações. Essa ação reflete uma crescente preocupação regulatória com o impacto dos criptoativos no mercado financeiro.

Danilo Matos, da NovaDAX, sugeriu que, apesar da correção adicional no curto prazo, o Bitcoin e outras criptomoedas têm potencial para recuperação a médio e longo prazo, especialmente se houver um corte nas taxas de juros e uma melhoria na liquidez global.

 

“A recente queda significativa do Bitcoin pode ser atribuída a fatores macroeconômicos e geopolíticos. No curto prazo, é possível que o Bitcoin passe por uma correção adicional, com possíveis suportes em torno de US$ 48.000 e US$ 44.000. Contudo, a médio e longo prazo, há potencial de recuperação, especialmente se o Federal Reserve adotar cortes de juros e a liquidez global melhorar. O crescente interesse institucional e a aprovação de ETFs de Bitcoin podem fornecer suporte significativo para o mercado, incentivando uma recuperação”, destacou.


Matos também sugeriu estratégias para investidores: “Em um ambiente de incerteza, diversificar os portfólios e considerar ativos tradicionais como o ouro pode proteger contra a volatilidade. Adotar uma abordagem de Dollar-Cost Averaging (DCA), comprando quantidades fixas de criptomoedas regularmente, pode ajudar a mitigar riscos e aproveitar correções de preços.

Luiz Fernando, CEO da LZCrypto Academy, atribui a queda a uma combinação de dados macroeconômicos desfavoráveis e a perda de força do índice da bolsa japonesa, prevendo mais quedas no curto prazo, mas uma possível recuperação ainda este ano.

 

“A queda nos mercados é causada por dados macroeconômicos indicando uma possível recessão nos EUA e a perda de força do mercado japonês, que foi acentuada pelo aumento das taxas de juros no Japão. Isso forçou investidores a liquidar ativos para saldar dívidas, resultando em vendas massivas. Espero mais quedas no curto prazo, mas a possibilidade de cortes de juros pelo Federal Reserve em setembro pode ajudar na recuperação”, reforçou.


Segundo o especialista, o declínio no mercado japonês é atribuído à necessidade do Japão de aumentar as taxas de juros, que anteriormente eram zero. "Muitos países e investidores haviam aproveitado esses juros baixos para contrair empréstimos no Japão, alavancando esses recursos para investir em outros mercados. Com o aumento inesperado das taxas de juros no Japão, esses investidores estão sendo forçados a liquidar ativos para saldar suas dívidas, o que está gerando vendas em massa de ações, criptomoedas e outros investimentos", enfatizou.

Pedro Gutierrez, da CoinEx, enfatiza a importância de estratégias de gerenciamento de risco durante períodos de volatilidade, recomendando diversificação de portfólios e uma abordagem cautelosa com foco em criptomoedas com fundamentos sólidos.

 

“O Bitcoin caiu abaixo da média móvel de 200 dias, indicando uma perda de suporte de longo prazo e possíveis novas quedas. Os investidores devem se preparar para possíveis novas quedas e considerar estratégias de gerenciamento de risco, como a diversificação e a análise cuidadosa da consistência e engajamento da comunidade das criptomoedas”, disse.


Gutierrez completou destacando que agosto tem historicamente sido um mês negativo para o Bitcoin, registrando ganhos apenas cinco vezes nos últimos treze anos. Além disso, segundo o executivo, os mercados de ações globais também estão enfrentando quedas notáveis devido a preocupações macroeconômicas, arrastando ainda mais os ativos de risco como o Bitcoin. "Por exemplo, o IBEX 35 registrou uma queda significativa, e os mercados asiáticos abriram com perdas acentuadas, indicando um sentimento global de aversão ao risco. Tecnicamente, o Bitcoin caiu abaixo da média móvel de 200 dias. Isso sugere uma perda de suporte de longo prazo e pode sinalizar novas quedas em direção a níveis de suporte mais baixos, como $47.149 e $35.377, se a pressão de venda continuar", disse em entrevista ao Web3News.

Gabriel Morciani, da Web3Valley, destaca que, após quedas acentuadas, geralmente ocorre um período de consolidação no mercado, aconselhando investidores a reposicionar seus recursos em ativos mais conservadores.

 

Assim como no mercado tradicional, as criptomoedas possuem suas “Blue Chips”. Ativos digitais que possuem maior correlação com o mercado e domínio do mesmo, além dos que possuem tecnologias usuais e que já possibilitam soluções. Projetos com Roadmaps ainda abstratos, não são boas opções no momento, assim como as famosas “memes”. Em uma boa análise, nunca pode faltar: equipe, tecnologia, aplicação e roadmap. 


Morciani também destaca que os indicadores de sentimento do mercado já mostravam ‘medo’ antes dos dados econômicos ruins dos EUA. "Com o mercado global enfrentando vendas em massa e o Federal Reserve mantendo as taxas de juros altas, estamos vendo um ciclo de depressão de mercado. Após quedas acentuadas, geralmente ocorre um período de consolidação, onde os investidores se reposicionam. Recomendo manter recursos em ativos conservadores e usar estratégias de investimento em ativos sólidos com fundamentos robusto”, disse.

Bernardo Srur, CEO da ABcripto, compartilhou suas perspectivas e recomendações para navegar neste cenário incerto. Srur destacou que as tensões geopolíticas e as mudanças nas políticas econômicas globais impactam diretamente o mercado de criptomoedas. Ele explicou que, em momentos de incerteza econômica, muitas vezes há um aumento na procura por ativos de refúgio, como o Bitcoin, que pode ser visto como uma forma de proteção contra a inflação e instabilidade econômica. No entanto, ele também adverte que essas mesmas tensões podem gerar volatilidade adicional no mercado.

Diante da recente volatilidade, Srur vê incertezas, mas também potenciais oportunidades a longo prazo. Ele sugere que os investidores devem compreender os investimentos em ativos digitais como uma estratégia de longo prazo, enfatizando a importância da paciência e da visão de futuro.

 

“Os movimentos de curto prazo, como as quedas acentuadas que estamos observando recentemente, são comuns e fazem parte da natureza do mercado”*, afirmou Srur, destacando a resiliência e o potencial de recuperação desses ativos ao longo dos anos.


Quando questionado sobre quais moedas ou tokens recomendaria para investimento neste momento de incerteza, Srur enfatiza a importância de selecionar ativos digitais com base em critérios robustos e sua proposta.

A escolha de quais ativos depende de diversos fatores, como o perfil de risco do investidor, o horizonte de investimento e as expectativas de mercado”, explicou. Ele sugere que os investidores devem observar cuidadosamente os critérios mais importantes ao selecionar ativos digitais para seus portfólios, considerando a diversidade do mercado e a atual incerteza.

Fuga de capital estrangeiro atinge R$ 32 bi no Brasil em 2024

O Brasil tem enfrentado uma fuga significativa de capital estrangeiro em 2024, com investidores internacionais retirando R$ 32 bilhões até o dia 1º de agosto, conforme dados da B3. Esse movimento destaca uma tendência preocupante que pode se intensificar diante do cenário internacional incerto. A elevação dos juros nos Estados Unidos, mantidos entre 5,25% e 5,50% por mais de um ano, e a revisão das metas fiscais pelo governo brasileiro em abril, sem a implementação de medidas eficazes de controle de gastos, contribuíram para a redução do interesse dos investidores pelo mercado brasileiro.

A delicada situação fiscal do país interrompeu os cortes na taxa Selic e elevou a possibilidade de um novo ciclo de aperto monetário, em resposta à expectativa de inflação em alta. Com o risco fiscal em evidência, outros mercados emergentes começam a atrair mais atenção, em detrimento do Brasil. Nesse contexto, a Índia se destaca como um destino mais promissor para investimentos. Um relatório do CEBR (Centro de Investigação Econômica e Empresarial) indica que a economia indiana deve crescer 6,5% ao ano até 2028, enquanto o Brasil deve crescer apenas 1,9% no mesmo período. Essa diferença sugere que a Índia pode ultrapassar grandes economias, como Japão e Alemanha, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China até 2032.

Para combater a fuga de capital, o Brasil precisa adotar medidas para equilibrar suas contas públicas. A recuperação do Ibovespa pode depender dos resultados corporativos das empresas brasileiras. O balanço da Petrobras, aguardado para 08 de agosto, após um relatório que mostrou um aumento de 2,4% na produção diária de barris de óleo em comparação com 2023, é especialmente esperado pelo mercado. Os resultados financeiros de bancos e seguradoras, como Itaú Unibanco e BB Seguridade, também são antecipados e podem influenciar a direção da Bolsa.

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